Matéria originalmente publicada pela Época.
O Brasil está envelhecendo, assim como grande parte dos países. Em uma tendência de transformação demográfica acelerada, a proporção de idosos – pessoas acima de 60 anos – quase dobrou em três anos, passando de 8,7% para 15,6% de 2000 a 2023, segundo as Projeções de População do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados do Censo Demográfico 2022. Em 2070, 37,8% da população será idosa.
Com essa pirâmide etária invertida, em que a população de idosos é maior que a de jovens, uma série de questões devem ser levantadas, principalmente sobre a saúde e moradia das pessoas dessa faixa etária.
Para atender esse público, empresas do setor imobiliário, como a Vitacon, Housi e Tecnisa estão entrando no segmento moradia senior living, com condomínios projetados especialmente para a nova geração de pessoas acima de 60 anos, que são consideradas idosas pelo IBGE, mas que não se identificam com o rótulo de “terceira idade”. Neles, os condôminos têm a opção de viver de forma saudável e em comunidade.
É importante destacar que esses condomínios não são considerados Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), residenciais que acolhem e protegem pessoas acima de 60 anos que necessitam de cuidados e acompanhamento. Atualmente, existem cerca de 7.029 instituições de ILPIs no país, segundo dados da Frente Nacional de Fortalecimento à ILPI.
O projeto de senior living promete oferecer moradias privativas, acessibilidade, atividades físicas adaptadas, programas culturais, ambulância e posto de enfermagem 24h. O primeiro empreendimento da Vitacon, em parceria com a Housi, tem lançamento previsto para agosto e venda no início do ano que vem no Higienópolis, em São Paulo. São previstas 400 unidades de 27m² a 85 m².
“Considerando que boa parte do público sênior hoje tem dinamismo, a gente repensou o modelo dos empreendimentos atuais. No lugar de uma academia moderna, vamos adaptar um espaço para exercícios, como pilates, yoga e dança. Em vez de uma piscina com raia de 25 metros, vamos colocar uma hidroginástica”, diz Ariel Frankel, CEO da Vitacon.
Moradia senior quer se distanciar de antigas casas de repouso
A proposta do senior living da Vitacon é se distanciar das antigas casas de repouso que desagradavam tanto os idosos, quanto às famílias. Por este motivo, eles são livres para entrar e sair de casa e receber visitas o tempo todo. No entanto, uma parte dos cuidados deverá permanecer no novo condomínio, afirma Frankel: o posto de enfermagem 24h.
“Os enfermeiros estarão preparados para um primeiro cuidado, desde lembrar a pessoa de tomar um remédio, medir a pressão a acionar uma ambulância se algo grave acontecer.”
Toda estrutura tem um custo. O valor estimado de aluguel do imóvel, com o condomínio deve sair por volta de R$ 10 mil. Já o valor médio de venda é de R$ 1 milhão para uma unidade de 27m² a 30 m².
Outro condomínio que também deve ser lançado em agosto é o Naara Longevity Residences, de Joseph Meyer Nigri, vice-presidente do conselho da Tecnisa. O residencial, voltado ao público acima de 75 anos, será vizinho do senior living da Vitacon, mas com projeto de alto padrão de 46 unidades de 100 m² a 145 m², por R$ 27 mil o m² Também haverá 60 apartamentos menores, mas serão ofertados apenas para aluguel de temporada.
A escolha do Higienópolis, segundo Nigri, se deve à acessibilidade e proximidade das famílias – argumento compartilhado por Ariel Frankel, da Vitacon.
“O idoso quer ter exatamente o mesmo estilo de vida que teve a vida inteira e continuar perto da família. Hoje, 80% da população brasileira está nas cidades”, afirma Alexandre Frankel, diretor operacional do Sindicato da Habitação Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP).
Democratização do modelo senior living
Mas não é só um bairro nobre que tem perfil para condomínio senior. De acordo com Alexandre, irmão de Ariel, e CEO da Housi, startup de moradia por assinatura, é possível lançar imóveis até dentro do programa “Minha Casa, Minha Vida” (cujo limite do valor do imóvel novo é de R$ 350 mil). “Estamos conversando com incorporadores do Brasil inteiro. O nosso projeto de moradia senior living é completamente adaptável para qualquer prédio e para qualquer classe econômica”, diz o executivo.
A localização também varia, com grande demanda em Santos, no litoral sul de São Paulo, e em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Segundo Alexandre, a Housi tem mais de 50 projetos de moradia senior em pesquisa no Brasil, sendo que 50% já estão em andamento.
